Os pais não sabiam ler, mas foram as letras da tipografia que prenderam Ernesto aos Açores. Ernesto Resendes nasceu em 1955 na Ilha de Santa Maria e estava destinado a emigrar. A paixão pelas artes gráficas e a liberdade de fazer o que gostava amarraram-no às Ilhas, fazendo ignorar as chamadas do Canadá. Apesar de continuar a assumir-se como tipógrafo e falar da Gráfica com um brilho nos olhos, Ernesto é hoje em dia um editor criativo com a capacidade para pôr a andar projetos inovadores, como a Maratona Literária, a editora Letras Lavadas e livros comemorativos relacionadas com a cultura açoriana. A partir do Octant PONTA DELGADA podemos visitar a Livraria Letras Lavadas no centro da cidade ou conhecer o Fundo José Ernesto Resendes/Grupo Nova Gráfica composto por mais de três mil livros no Centro Natália Correia, na Fajã de Baixo.
Ernesto Resendes nasceu em 1955 na Ilha de Santa Maria. A emigração provocada pela erupção do vulcão dos capelinhos na ilha do Faial em 1958 abriu as portas das américas para os açorianos. Do grupo central, milhares de pessoas partiram à procura de uma oportunidade de vida, acesso ao novo mundo dificultado a quem no grupo oriental aspirava também ao sonho americano.
Aos seis anos, Ernesto muda-se com a família para São Miguel. O pai vendeu os animais – vacas e ovelhas – e vieram para Ponta Delgada. Mais tarde emigra para o Canadá e a família acaba por se espalhar por vários continentes. Ernesto fica em São Miguel a aguardar chamada mas começa a trabalhar aos quinze anos numa tipografia, aprende um ofício e progride na profissão. Trabalha no Açoriano Oriental e a passagem da tipografia para o offset muda-lha a vida, assim como mais tarde o digital. “A vida é cheia de oportunidades, é preciso aproveitá-las”, gosta de dizer e de praticar.
Ao longo dos anos ganha músculo empresarial. Alia à empresa de Artes Gráficas fundada em 1982, uma agência de publicidade, em 2007 e uma editora. Da produção das páginas amarelas e guias de turismo chega à edição de livros, desde romances a álbuns de fotografias, a edições de autores locais a livros únicos comemorativos ou de celebração. Publiçor e Letras Lavadas são duas das chancelas por si criadas, esta última com espaço de livraria no centro da cidade de Ponta Delgada. Ao longo de cinco décadas de trabalho tem mais de 3800 títulos publicados, setecentos dos quais de edição própria. Foi-se adaptando às tendências de mercado. Líder e exímio gestor de recursos humanos conseguiu certificação da Gráfica ao nível ambiental.
Apesar de continuar a assumir-se como tipógrafo e mostrar-nos a gráfica com um brilho nos olhos, Ernesto é hoje em dia editor e um criativo com capacidade de pôr a andar projetos inovadores. Exemplo disso é a Maratona Literária. Nesta iniciativa convocou 24 escritores para durante uma hora em locais representativos da cultura micaelense escreverem um conto que, numa prova de velocidade, estavam reunidos num livro já impresso no dia seguinte. Idealizou e produziu livros em forma de bolo, uma homenagem a Manuel Ferreira com a obra Açor Eterno – Trilogia de uma Ave e de um Povo da altura do autor (1,68m), inúmeras parcerias com o artista visual Urbano, edições especiais de oferta a presidentes como Obama.
Estes exemplares fazem parte do Fundo José Ernesto Rezendes/Grupo Nova Gráfica composto por mais de três mil livros doados à Câmara Municipal de Ponta Delgada e acessíveis a todos no Centro Natália Correia.
A paixão pelas artes gráficas e a liberdade de fazer o que gosta amarraram-no aos Açores, fazendo ignorar as chamadas da família no Canadá para a ela se juntar. Sempre com ideias e projetos na manga, quando lhe perguntamos qual o livro da sua vida responde sem hesitar: Gaspar Frutuoso – Saudades da Terra. “O livro das nossas vidas”, salienta num plural insular de quem sabe o lugar que ocupa dentro da comunidade.