“É preciso escutar a MADEIRA”

Hugo Raposo

Açores

Nasceu numa família com habilidade de mãos e ouvido para a música. Aos cinco anos fazia brinquedos de madeira, no torno e às escondidas. Hugo Raposo constrói instrumentos de corda na sua oficina em Ponta Delgada. Especializou-se na guitarra portuguesa e conseguiu evoluir o som da viola da terra, instrumento característico dos Açores. Para se tirar um bom som de um instrumento é a madeira que manda: abeto alemão, cedro canadiano, pau-santo de Madagáscar e da Índia… O som e timbre dos seus instrumentos granjearam-lhe fama nos quatro cantos de mundo. Reconhece-os de olhos fechados. A afinação e os corações no tampo, formando a coroa do Senhor Santo Cristo, são a marca identitaria deste instrumento. A partir do Octant PONTA DELGADA podemos aprender a identificar uma viola da terra e a saber tudo sobre o seu som.

Nasceu numa família com habilidade de mãos e ouvido para a música. Aos cinco anos fazia os próprios brinquedos de madeira, no torno e às escondidas. Observava na oficina o pai e aprendeu.

O pai de Hugo compatibilizava a vida de barbeiro em Ponta Delgada com a de músico, tocava viola de fado e acompanhava José Pracana, num instrumento por si construído.

Hugo Raposo herdou o jeito de mãos e o gosto pela música e conjugou-os também. Tirou o curso de marcenaria e carpintaria na Escola Profissional de Capelas e constrói instrumentos numa oficina na Rua do Perú, no centro de Ponta Delgada. Fez um estágio com o Mestre Grácio, referência na área das guitarras e aprendeu que fazer manualmente um instrumento não é só geometria. Hugo tem sabido transmitir a sua alma ao instrumento e “tirar o som” e os timbres que lhe granjearam fama nos quatro cantos do mundo. Especializou-se me guitarra portuguesa e conseguiu sem falsas modéstias evoluir o som da viola da terra, instrumento característico do arquipélago dos Açores. “É preciso escutar a madeira”, para tirar um bom som a madeira é que manda. Abeto alemão, cedro canadiano, pau santo de Madagáscar e da Índia são algumas das eleitas.

A viola da terra de São Miguel caracteriza-se por ter 12 cordas e cinco parcelas, escala rasa e uma afinação e decoração próprias. Na Ilha Terceira é diferente, a viola tem 15 cordas e seis parcelas. A decoração pode variar e ter diversas simbologias, mas no tampo os corações formando a coroa do Senhor Santo Cristo são a marca identitária deste instrumento.

Hugo Raposo segue as pisadas dos seus mestres. Sem pressas, desenha todos os dias o seu percurso desde 1989. É ainda um jovem. À semelhança do mestre Grácio e do seu pai, acumula a profissão de artífice com outros trabalhos. Desempenha funções na logística do Coliseu Micaelense porque é preciso viver e ter outras experiências para ser melhor construtor de instrumentos. Dois meses é o tempo de que precisa para terminar uma viola da terra ou uma guitarra portuguesa. Recebe encomendas de várias partes do mundo e consegue reconhecer de olhos fechados o som das suas guitarras.

Conscientemente, está a tornar-se também um ele mestre. Encara com otimismo a possibilidade de ter quem lhe siga a arte. Hugo Raposo é um herói da terra.

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