“Urbano é Urbano”, disse-nos o amigo que nos apresentou. Nasceu na Água Retorta (1959), descendente de uma família da Ilha de Santa Maria. Aos seis anos, veio para Ponta Delgada. Por pragmatismo, formou-se em contabilidade e arranjou um emprego na SATA que lhe permitiu continuar a desenhar nos tempos livres, a sua grande vocação, e a primeira. E viajar para visitar museus e cidades, aproveitando as regalias do emprego. Em 1983 fez uma exposição no Museu Carlos Machado e, no rescaldo, decidiu passar uma temporada em Londres. Escreve uma carta a Bartomeu Cid dos Santos, professor português de gravura na conceituada Slade Shcool of Fine Art que lhe oferece a oportunidade de frequentar a escola e é assim que aos 35 anos decide partir para Londres. Fica por lá dois anos a estudar e quando regressa a Portugal é acolhido pela Galeria 111, de Manuel de Brito.
O Urbano abraça definitivamente as artes e deixa a aviação para trás. No trilho de Goethe, parte numa viagem de estudo a Itália.
Considera a arte universal e intemporal, embora reflita o tempo e espaço em que é produzida. No seu caso, uma mesma ideia pode resultar em várias obras, porque desenvolve, não sintetiza.
O seu percurso desenvolve-se como se de um livro se tratasse, onde estão contidas as três premissas da sua intervenção. Em primeiro lugar, uma reflexão sobre a existência e a consciência da insignificância, motor de lucidez da importância de usar a vida da melhor maneira. Em segundo lugar, o registo das experiências da vida. Por fim, os acontecimentos contemporâneos.
Desde os tempos em que treinava o olhar e a mão copiando obras de Piero de la Francesca e Renoir nos museus, Urbano construiu ao longo de décadas um coerente corpo artístico original que questiona os grandes temas da existência e da ação do Homem no presente.
Um com exemplo disso, é Memória dos banhos das alcaçarias, díptico de 1996 que remete para a destruição das piscinas da sua infância em Ponta Delgada, aquando do alargamento da avenida marginal, perto do local onde se situa atualmente o Octant. A obra – testemunho de um momento marcante na cidade de Ponta Delgada – pode ser vista na Biblioteca Pública da cidade.
A obra de Urbano está espalhado pela cidade. Além da Bibioteca, podemos ver intervenções suas na Capela do Hospital do Espírito Santo, no Museu Carlos Machado e na Galeria Fonseca Macedo.
“Não sei explicar o que faço, mas faço-o”, afirma. Às vezes a paleta cromática é forte e variada, como no caso da Memória dos banhos…, outras – como quando reflete sobre o início do mundo – os trabalhos são monocromáticos. Também, recorre a obras clássicas como inspiração. Recentemente, abordou “o mar como assassino”. Desenvolve um raciocínio, “a obra é um acaso controlado”.
“Urbano é Urbano”, como o define o amigo que nos apresentou. Talvez a estranheza de não precisar de apelido, interpele. “Urbano o quê?”. “Urbano sem quê!”, responde quando lhe perguntam.